Geralmente é uma cirurgia eletiva, isto é, com data planejada e realização de um check-up pré-operatório, dificilmente se realiza a cirurgia em um momento de crise aguda.
A partir do momento em que se faz o diagnóstico de COLELITÍASE, (cálculos ou pedras na vesícula), independentemente de sintomas, é indicado iniciar o planejamento para remoção da vesícula biliar, a mesma indicação cirúrgica é válida para PÓLIPOS na vesícula.
A importância de realizar um procedimento eletivo, em um momento onde não há crise, é preferível devido ao menor índice de sintomas pós-operatórios, principalmente dor, favorecendo um retorno precoce às atividades cotidianas, possibilitando uma melhor recuperação. Em períodos de crise, há uma inflamação na vesícula o que torna o procedimento mais difícil e trabalhoso, podendo ocorrer, por exemplo, um sangramento mais acentuado que o normal, prejudicando o "campo cirúrgico" devido a dificuldade de visualização e identificação das estruturas anatômicas.
Como é feita a cirurgia?
Através de uma punção (introdução de uma agulha especial) na região periumbilical, se infla a cavidade abdominal com gás, e logo após se introduz uma câmera filmadora, criando-se um espaço de trabalho chamado de campo cirúrgico. A cirurgia é realizada sob visualização em um monitor de TV, método chamado de VIDEOLAPAROSCOPIA. Após a realização de pequenas incisões na parte superior e na lateral direita do abdome, usadas para introduzir os
instrumentos cirúrgicos na cavidade abdominal, se disseca a vesícula biliar e sua conexão com a via biliar principal ou via biliar extra-hepática. Essa conexão é fechada (DUCTO CÍSTICO) usando um clipe metálico (pequena peça de metal em formato de U) e a vesícula é removida, sendo extraída por uma das incisões. Os cálculos contidos no interior da vesícula são fragmentados para facilitar a retirada.
Como é o pós?
É uma cirurgia realizada em caráter ambulatorial, alta no mesmo dia, após a recuperação anestésica. Sintomas como tonturas, náuseas, enjôos e até vômitos, comuns em qualquer procedimento com anestesia geral, ocorrem nos primeiros momentos da recuperação, até a completa metabolização e eliminação desses medicamentos.
Devido ao PNEUMOPERITÔNIO (gás insuflado dentro do abdome) e às drogas anestésicas, é normal uma diminuição no ritmo do trânsito intestinal, então a dieta é leve, dando-se referência a alimentos de fácil digestão e em pequenas quantidades. Mesmo com bastante apetite se deve ter moderação na fase inicial. É importante a ingestão de líquidos para manter a hidratação e para que as fezes não fiquem ressecadas, o que exigiria um maior esforço para eliminação.
É também indicado o uso de analgésicos leves, pois a dor pode variar conforme as características próprias de cada indivíduo, sendo incomum dores fortes no abdome. Alguns pacientes, em torno de 5-10%, podem apresentar uma dor forte no ombro direito no primeiro dia de pós-operatório. Isso se deve a uma pequena quantidade de gás residual que pode permanecer na cavidade abdominal. Este gás é completamente absorvido em cerca de 48h. O
uso de analgésicos associado à posição deitado de barriga para cima aliviará a dor rapidamente.
Cerca de 30% dos pacientes podem permanecer com algum grau de disfunção no trato digestivo como, por exemplo, o aumento da frequência das fezes após a alimentação. Esta alteração geralmente se normaliza espontaneamente nos primeiros meses após a cirurgia.
Existem riscos? quais?
As intercorrências pós-operatórias de maior significado, embora incomuns, estão diretamente relacionadas com o estado geral do paciente. Assim, aqueles que apresentam, por exemplo, idade avançada, hipertensão com controle inadequado, uso de anticoagulantes, diabetes com controle irregular, obesidade, dentre outros, têm um risco cirúrgico maior em relação ao paciente que não apresenta doenças prévias. Posto isso, fica claro que se faz necessário uma revisão da condição pré-operatória de cada enfermidade, se elegendo o momento da cirurgia quando o paciente se encontra na melhor condição possível.
Mesmo sendo um procedimento de baixa complexidade a colecistectomia videolaparoscópica pode se tornar uma cirurgia difícil, especialmente quando há uma variação anatômica não descrita nos exames de imagem, condição bastante rara, quando um há processo crônico com inflamação importante da vesícula biliar, cirurgias prévias especialmente não videolaparoscópicas, etc. A CONVERSÃO, ou transformação da cirurgia no procedimento convencional com incisão cirúrgica ampliada ou como era chamada antigamente CIRURGIA A CÉU ABERTO, é um recurso usado para preservar a segurança do paciente. Deve ser empregada em casos de maior dificuldade ou com complicações cirúrgicas decorrentes durante o procedimento, que seriam de difícil manejo pelo método videolaparoscópico. O índice de conversão da cirurgia é bastante baixo (menos 0,5%) e está diretamente relacionado à qualidade do equipamento usado e do treinamento da equipe cirúrgica, pois mesmo em situações adversas uma equipe que tem conhecimento prático, experiência e entrosamento é capaz de resolver os casos mais complexos sem a necessidade de conversão do procedimento.
Texto preparado pelo Cirurgião Dr. Fábio Santarosa, membro do Comitê Científico do Hospital Blanc.